Saturday, July 04, 2009

A Trilha Inca

Um caminho inspirador e transformador. Acho que posso descrever dessa forma.
Aliás esse foi um grande aprendizado: O CAMINHO é mais importante do que o ponto final.

Saímos do Brasil pensando que o ápice da nossa viagem foi a chegada em Machu Picchu! E no fim, descobrimos que o ápice acabou sendo todo o caminho. Todos os momentos que passamos, os aprendizados que vivenciamos, alguns muito particulares, outros muito coletivos... novas pessoas, novos lugares, novas culturas e valores em transformação...

A Trilha começou e no primeiro dia eu apenas caminhei. Andamos com nossas mochilas e o cansaço era intenso. Muita folha e chá de coca para aguentar a altitude. Descidas, subidas e retas... o caminho tinha de tudo um pouco.

No segundo dia encaramos 5 horas de subida a 4215 metros de altitude. Eram muitos os degraus de pedras. Dei início à caminhada apenas caminhando. Em pouco tempo o grupo começou a se dispersar e as pessoas passaram a caminhar cada qual em seu ritmo. Foi então que eu comecei a caminhar sozinha e pude me dar conta de minha própria respiração. Não sei bem como isso aconteceu, mas a partir de um dado momento eu não estava mais caminhando apenas! Estava meditando. E cada vez me aprofundando mais em meu estado meditativo. Era como se existisse apenas aquele momento. Como se minha mente e meus pensamentos não se dessem conta da existência de mais nada. Apenas daquele momento. Comecei a sincronizar minha respiração com meus passos e com meus esforços de subida. Isso me proporcionou experienciar um ritmo único. O meu ritmo. De forma que a necessidade de parar para descansar era cada vez menor, com paradas cada vez mais rápidas. Meu único momento pensante era quando eu levantava a cabeça, admirava a natureza ao meu redor e agradecia por estar ali, por poder vizualizar aquelas imagens e sentir aquela energia tão prazerosa.

Essa foi uma grande mudança de percepção que me ajudou infinitamente nos dias que se seguiram.

Mas, mesmo meditando e seguindo em frente, o corpo começa a dar sinais de sobrecarga quando se está próximo do topo. E a sensação era de infinita emoção. Ao chegar, a emoção era tão forte, que não há palavras para explicar. Eu cheguei sozinha. As pessoas que já estavam lá aplaudiam e vinham me cumprimentar. Abracei uma das argentinas do nosso grupo. Depois sentei numa pedra. Fazia muito frio. E eu só conseguia chorar de emoção de estar ali, literalmente do lado das nuvens.
Depois disso foram 2 horas de descida. Esse foi, para mim, o momento mais incrível da trilha.

Mais uma vez ficava claro pra mim que os nossos limites são maiores do que nós imaginamos.

No dia seguinte tínhamos mais uma subida. Muito menor do que a anterior. Duas horas apenas. A trilha do terceiro dia é muito bonita. Cheia de sítios arqueológicos lindíssimos e com visuais paradisíacos. Nosso corpo já estava se acostumando àquele movimento. O que nos possibilitou andar no mesmo ritmo, eu e o Lê. Ao invés de mais cansados, nos sentíamos mais preparados.

O quarto e último dia, acordamos às 3:40 da manhã e às 05:00 estávamos na porta de controle para a última trilha até Machu Picchu. Eram 2 horas e meia de caminhada, que fizemos em 2 horas. Um visual recheado pelo nascer do sol. Chegamos à porta do sol e pudemos então avistar o nosso tão esperado destino: Machu Picchu.

Mas, o mais importante, era termos vivenciado um caminho até ali. Um caminho que havia começado em Lima, no início da nossa viagem. E este caminho estava de algum modo, a partir daquele momento, gritando dentro de nós. Isso era o real saldo. Marcas que em contato com o que somos, nos transformaram e continuam fazendo efeito...

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