Wednesday, October 22, 2008
Saturday, October 04, 2008
Manifesto aos alienados de si.
Seguindo a minha idéia de fomentar, aos indivíduos leitores deste blog, a curiosidade por si mesmos, posto abaixo um dos mais lindos manifestos que eu já li! Aproveitem!
‘Nada vindo de fora penetrou em você; uma parte da atividade da sua própria mente foi tirada do seu conhecimento e do comando da sua vontade. Isso, também, é porque você está tão enfraquecido em sua defesa; você está utilizando uma parte da sua força para combater a outra parte e é impossível concentrar a totalidade da sua força como você o faria contra um inimigo externo. E nem mesmo é a parte pior ou menos importante das suas forças mentais que se tornou, desse modo, antagônica e independente de você. A culpa, sou forçado a dizer, está em você mesmo. Você superestimou sua força quando achou que podia tratar seus instintos sexuais da maneira que quisesse e ignorar absolutamente as intenções desses instintos. O resultado é que se rebelaram e assumiram suas próprias vias obscuras para escapar a essa supressão; estabeleceram seus direitos de uma forma que você não pode aprovar. O modo pelo qual conseguiram isso e os caminhos que tomaram não chegaram ao seu conhecimento. Tudo o que você sabe é a conseqüência do trabalho deles — o sintoma que você experimenta como sofrimento. Assim, você não o reconhece como um derivativo dos seus próprios instintos rejeitados e não sabe que é uma satisfação substitutiva para eles.
‘Todo o processo, no entanto, só se torna possível pela circunstância única de que você está equivocado também em um outro ponto importante. Sente-se seguro de que está informado de tudo o que se passa em sua mente, se tem qualquer importância, porque nesse caso, crê você, sua consciência dá-lhe notícia disso. E se você não tem informação de algo que ocorre em sua mente, presume, confiante, que tal coisa não existe. Na verdade, você chega a considerar o que é “mental” como idêntico ao que é “consciente” — isto é, aquilo que é conhecido por você —, apesar da mais óbvia evidência de que muito mais coisas devem acontecer em sua mente, do que aquelas que chegam à sua consciência. Vamos, deixe que lhe ensinem algo sobre esse problema! O que está em sua mente não coincide com aquilo de que você está consciente; o que acontece realmente e aquilo que você sabe, são duas coisas distintas. Normalmente, admito, a inteligência que alcança a sua consciência é suficiente para as suas necessidades; e você pode nutrir a ilusão de que fica sabendo de todas as coisas importantes. Em alguns casos, porém, como no de um conflito instintual como o que descrevi, a função da sua inteligência falha e sua vontade, então, não se estende para mais além do seu conhecimento. Em todo caso, contudo, a informação que alcança sua consciência é incompleta e muitas vezes não é de minha confiança. Com freqüência, também, acontece que você só obtém informação dos eventos quando eles acabaram e quando você nada mais pode fazer para modificá-los. Mesmo se você não está doente, quem poderá dizer tudo o que está agitando sua mente, coisas que você não sabe ou das quais tem falsas informações? Você se comporta como um governante absoluto, que se contenta com as informações fornecidas pelos seus altos funcionários e jamais se mistura com o povo para ouvir a sua voz. Volte seus olhos para dentro, contemple suas próprias profundezas, aprenda primeiro a conhecer-se! Então, compreenderá por que está destinado a ficar doente e, talvez, evite adoecer no futuro.’
By Sigmund Freud
Texto Uma Dificuldade no Caminho da Psicanálise (1917).
Seguindo a minha idéia de fomentar, aos indivíduos leitores deste blog, a curiosidade por si mesmos, posto abaixo um dos mais lindos manifestos que eu já li! Aproveitem!
‘Nada vindo de fora penetrou em você; uma parte da atividade da sua própria mente foi tirada do seu conhecimento e do comando da sua vontade. Isso, também, é porque você está tão enfraquecido em sua defesa; você está utilizando uma parte da sua força para combater a outra parte e é impossível concentrar a totalidade da sua força como você o faria contra um inimigo externo. E nem mesmo é a parte pior ou menos importante das suas forças mentais que se tornou, desse modo, antagônica e independente de você. A culpa, sou forçado a dizer, está em você mesmo. Você superestimou sua força quando achou que podia tratar seus instintos sexuais da maneira que quisesse e ignorar absolutamente as intenções desses instintos. O resultado é que se rebelaram e assumiram suas próprias vias obscuras para escapar a essa supressão; estabeleceram seus direitos de uma forma que você não pode aprovar. O modo pelo qual conseguiram isso e os caminhos que tomaram não chegaram ao seu conhecimento. Tudo o que você sabe é a conseqüência do trabalho deles — o sintoma que você experimenta como sofrimento. Assim, você não o reconhece como um derivativo dos seus próprios instintos rejeitados e não sabe que é uma satisfação substitutiva para eles.
‘Todo o processo, no entanto, só se torna possível pela circunstância única de que você está equivocado também em um outro ponto importante. Sente-se seguro de que está informado de tudo o que se passa em sua mente, se tem qualquer importância, porque nesse caso, crê você, sua consciência dá-lhe notícia disso. E se você não tem informação de algo que ocorre em sua mente, presume, confiante, que tal coisa não existe. Na verdade, você chega a considerar o que é “mental” como idêntico ao que é “consciente” — isto é, aquilo que é conhecido por você —, apesar da mais óbvia evidência de que muito mais coisas devem acontecer em sua mente, do que aquelas que chegam à sua consciência. Vamos, deixe que lhe ensinem algo sobre esse problema! O que está em sua mente não coincide com aquilo de que você está consciente; o que acontece realmente e aquilo que você sabe, são duas coisas distintas. Normalmente, admito, a inteligência que alcança a sua consciência é suficiente para as suas necessidades; e você pode nutrir a ilusão de que fica sabendo de todas as coisas importantes. Em alguns casos, porém, como no de um conflito instintual como o que descrevi, a função da sua inteligência falha e sua vontade, então, não se estende para mais além do seu conhecimento. Em todo caso, contudo, a informação que alcança sua consciência é incompleta e muitas vezes não é de minha confiança. Com freqüência, também, acontece que você só obtém informação dos eventos quando eles acabaram e quando você nada mais pode fazer para modificá-los. Mesmo se você não está doente, quem poderá dizer tudo o que está agitando sua mente, coisas que você não sabe ou das quais tem falsas informações? Você se comporta como um governante absoluto, que se contenta com as informações fornecidas pelos seus altos funcionários e jamais se mistura com o povo para ouvir a sua voz. Volte seus olhos para dentro, contemple suas próprias profundezas, aprenda primeiro a conhecer-se! Então, compreenderá por que está destinado a ficar doente e, talvez, evite adoecer no futuro.’
By Sigmund Freud
Texto Uma Dificuldade no Caminho da Psicanálise (1917).
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